Escola a Ler

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Dia Mundial da Alimentação - 16 de outubro


Vamos falar do Dia Mundial da Alimentação, 
que hoje se comemora? SIM!!!!

Uma lagarta Processionária-Não que gostava de comer LIVROS!

Vamos também comemorar EM GRANDE o MÊS INTERNACIONAL DAS BIBLIOTECAS ESCOLARES com este excerto fantástico de Contos da Mata dos Medos, de Álvaro Magalhães!

Conversa entre o Coelho e a Pequenita (a lagarta Processionária-Não)



Certa manhã, o Coelho foi a casa do Ouriço e encontrou a Pequenita a dormir à janela depois de mais uma noite a ver passar as procissões.
«Vim ver como estavas, por ser quinta-feira», disse ele.
«Ontem também vieste e era quarta-feira.»
«Pois foi. Vim ver como estavas por ser quarta-feira. E no domingo talvez apareça para saber como estarás por ser domingo.»
«Obrigada, Coelho. Fica então a saber que hoje não estou lá muito bem. Talvez por ser quinta-feira.»
«Nem eu», disse o Coelho a preparar-se para contar o seu problema. Sentou-se num Banco Muito Útil e foi escorregando até parar no chão.
«Este banco está todo roído de um lado», disse ele.
«Fui eu», confessou a Pequenita. «Ainda não tive tempo para o comer do outro lado.»
O Coelho abriu a boca, espantado.
«Mas isto é um Banco Muito Útil que dei ao Ouriço no dia dos anos dele. Não devias comer agulhas de pinheiro?»
«Não sou dessas», esclareceu a Pequenita. «Tenho-me arranjado com estes livros todos, que são bocadinhos de árvores mortas.»
«Essa é boa!»
«Pergunta à Toupeira. Foi o que fez o Ouriço, que também não acreditava.»
«Custa a acreditar, realmente. Mas se a Toupeira o diz…»
«Pois é. Quando vires um livro, lembra-te que há nele o corpo e o sangue de uma árvore.»
«Pode ser», concordou o Coelho. «O problema é que eu não vejo estes livros como livros mas como Cadeiras Muito Úteis, Sofás Muito Úteis, Mesas Muito Úteis.»
«Se nos esquecermos disso, são apenas livros. E comem-se», disse a Pequenita.
«Papel tenrinho, sem ponta de humidade. Um livro bem escrito sabe sempre bem melhor, porque há alguns que são intragáveis. Aquela Mesa Muito Útil, por exemplo, comi ontem um bocado dela e tinha palavras estragadas. Vomitei páginas inteiras, as piores, as que me deram a volta a barriga. A poesia, normalmente, cai bem no estômago, enquanto a História, por exemplo, e um bocado indigesta. Romances, histórias de amor, grandes aventuras, disso é que eu gosto. Tantos personagens deliciosos que eu conheci. Aconteça o que acontecer, no final vão todos para o céu da minha boca.»
«Parece impossível», disse o Coelho, «Devoraste essa gente toda. Não te sentes pesada?»
«Nem um bocado. Mesmo os maus, souberam-me bem. Alguns, foi a primeira vez que gostei deles.»
pp. 46/47
Texto de Alvaro Magalhães
Com desenhos de Cristina Valadas
Assirio & Alvim
Câmara Municipal de Almada

Sem comentários:

Enviar um comentário