Escola a Ler

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Mês Internacional das Bibliotecas

   
  Desde 2008 que o mês de outubro é o Mês Internacional das Bibliotecas Escolares, escolhido pela Direcção da IASL.


A BE do Crato para assinalá-lo, planificou as seguintes atividades: - Exposição sobre "Implantação da República".
Comemorações do Dia da Alimentação: - "Saber Comer Poesia - Alunos do 1º Ciclo de Crato e Gáfete
 "Conto da história a "Lagartinha muito comilona" - Pré-Escolar.
 Sessões de Animação da Leitura - Técnica do Livro Vivo, com o tema "Delinquência Juvenil" - Turmas dos 8º anos A e B.
"O Meu Livro +.
"Bebéteca".

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

4 poemas de Tomas Tranströmer, Prémio Nobel da Literatura 2011


Foto: jornal Público


O poeta sueco Tomas Tranströmer é o Prémio Nobel da Literatura de 2011. Escreve sobre a morte, a história, a memória e é conhecido pelas suas metáforas.

No início do ano, o blogue Poesia Ilimitada, publicou quatro poemas do poeta sueco, que aqui transcrevemos:


HISTÓRIAS DE MARINHEIROS


Há dias de inverno sem neve em que o mar é parente

de zonas montanhosas, encolhido sob plumagem cinza,

azul só por um minuto, longas horas com ondas quais pálidos

linces, buscando em vão sustento nas pedras de à beira-mar.



Em dias como estes saem do mar restos de naufrágios em busca

de seus proprietários, sentados no bulício da cidade, e afogadas

tripulações vêm a terra, más ténues que fumo de cachimbo.



(No Norte andam os verdadeiros linces, com garras afiadas

e olhos sonhadores. No Norte, onde o dia

vive numa mina, de dia e de noite.



Ali, onde o único sobrevivente pode estar

junto ao forno da Aurora Boreal escutando

a música dos mortos de frio).



(1954)



§



A ÁRVORE E A NUVEM

Uma árvore anda de aqui para ali sob a chuva,

com pressa, ante nós, derramando-se na cinza.

Leva um recado. Da chuva arranca vida

como um melro ante um jardim de fruta.



Quando a chuva cessa, detém-se a árvore.

Vislumbramo-la direita, quieta em noites claras,

à espera, como nós, do instante

em que flocos de neve floresçam no espaço.



(1962)



§



DESDE A MONTANHA


Estou na montanha e vejo a enseada.

Os barcos descansam sobre a superfície do verão.

«Somos sonâmbulos. Luas vagabundas.»

Isso dizem as velas brancas.



«Deslizamos por uma casa adormecida.

Abrimos as portas lentamente.

Assomamo-nos à liberdade.»

Isso dizem as velas brancas.



Um dia vi navegar os desejos do mundo.

Todos, no mesmo rumo – uma só frota.

«Agora estamos dispersos. Séquito de ninguém.»

Isso dizem as velas brancas.



(1962)



§



PÁSSAROS MATINAIS



Desperto o automóvel

que tem o pára-brisas coberto de pólen.

Coloco os óculos de sol.

O canto dos pássaros escurece.



Enquanto isso outro homem compra um diário

na estação de comboio

junto a um grande vagão de carga

completamente vermelho de ferrugem

que cintila ao sol.



Não há vazios por aqui.



Cruza o calor da primavera um corredor frio

por onde alguém entra depressa

e conta que como foi caluniado

até na Direcção.



Por uma parte de trás da paisagem

chega a gralha

negra e branca. Pássaro agoirento.

E o melro que se move em todas as direcções

até que tudo seja um desenho a carvão,

salvo a roupa branca na corda de estender:

um coro da Palestina:



Não há vazios por aqui.



É fantástico sentir como cresce o meu poema

enquanto me vou encolhendo

Cresce, ocupa o meu lugar.



Desloca-me.

Expulsa-me do ninho.

O poema está pronto.



(1966)